quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Estamos monitorando, mas entendemos que a inflação é temporária, diz Campos Neto

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O Banco Central (BC) está acompanhando de perto o aumento da inflação no curto prazo, mas considera que esse choque é passageiro, reforçou nesta quarta-feira (4) o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto. "Existe uma percepção que a inflação de curto prazo está subindo, os números mostram isso", disse ele, em entrevista ao canal 'Me Poupe'. "Estamos obviamente monitorando, mas entendemos que a [alta no curto prazo] da inflação é temporária." Segundo Campos, há três fatores principais elevando os preços neste momento: a desvalorização persistente do câmbio, que acaba sendo repassada para os preços; a "poupança circunstancial" criada pelas famílias na pandemia, que se reflete em preços mais altos na alimentação em domicílio; e os programas de transferência de renda criados pelo governo durante a pandemia. De acordo com ele, o impacto do câmbio está concentrado principalmente nos preços de combustíveis. "Quanto tiramos combustível dessa contaminação, sobra pouco [impacto]", disse. A tendência, na visão de Campos, é que tanto o repasse cambial quanto o impacto da transferência de renda sobre a inflação diminuam com o tempo. Além disso, as perspectivas favoráveis para as safras agrícolas também devem ajudar a diminuir os preços dos alimentos. Na entrevista, Campos voltou a alertar para a importância da disciplina fiscal e para os efeitos que uma mensagem de descontrole das contas públicas tem sobre as condições financeiras, como a elevação da curva de juros. Segundo ele, o aumento dos gastos na pandemia foi importante, mas é necessário deixar claro que o país voltará ao "mundo da disciplina fiscal". "Temos uma situação de endividamento alto hoje", disse. Campos destacou que as reações recentes dos mercados indicam que o país passou do "ponto de inflexão", em que os impactos de novos gastos públicos não compensam a perda de "credibilidade" que o país tem com os agentes econômicos. Pix Campos Neto também disse na entrevista que os cartões de débito devem ser afetados mais negativamente do que os de crédito pela entrada em vigor do Pix. "Acho que o cartão de débito seja mais substituído [pelo Pix] do que o cartão de crédito", disse na entrevista ao canal 'Me Poupe'. Campos evitou traçar cenários a respeito de quais setores podem ser mais afetados com o funcionamento do sistema de pagamentos instantâneos. Mas destacou que o sistema financeiro e de pagamentos vem passando por um processo acelerado de modernização. Um dos exemplos citados por ele foi o Google. "Temos o Google, que quer entrar no Brasil e fazer pagamentos também", disse. De acordo com o presidente do BC, o custo operacional que as instituições financeiras terão para usar o Pix será "muito mais barato" do que o das demais formas de transferências. Isso fará, por exemplo, com que as tarifas cobradas das pessoas jurídicas que usarem o Pix sejam "muito mais" baratas e competitivas. Em um primeiro momento de funcionamento, Campos destacou que há uma quantidade grande de bancos pequenos e médios "com um número de registros muito alto" para operarem o Pix. Questionado se a entrada em vigor do sistema tinha alguma relação com uma possível volta da CPMF, o presidente do BC foi enfático ao negar, afirmando que não há "em absoluto" nenhuma conexão entre os dois temas. "O Pix não facilita e nem atrapalha a entrada de um imposto como esse", disse. Moeda digital Outro exemplo da modernização pela qual passa o sistema financeiro é o processo de criação de uma moeda digital. "Acredito que iremos para um processo de ter uma moeda digital em algum momento, que foi acelerado na pandemia", afirmou. Autonomia do BC O presidente do BC também comentou a aprovação no Senado, ontem, do projeto de lei que estabelece a autonomia da instituição. "Já temos uma autonomia operacional, temos liberdade para atingir nossa meta com nossos instrumentos", disse. Com as mudanças estabelecidas pelo projeto, o BC ganhará ainda mais credibilidade, segundo ele, o que ajudará a diminuir a parte longa da curva de juros e a inflação, "com tudo o mais constante". Na prática, de acordo com Campos, o que o texto faz é transferir, do Executivo para o Senado, maior poder sobre a autoridade monetária. "O projeto coloca a autonomia no papel e faz um movimento importante, de desvincular ciclo de política monetária do ciclo político", disse. "Isso passa a percepção para as pessoas de que o BC terá mais autonomia, dá mais credibilidade para o sistema." Campos lembrou, no entanto, que o projeto também precisa ser aprovado pela Câmara dos Deputados e que, portanto, sua aprovação ainda "depende do Legislativo".

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via Valor Econômico

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